MULHERES!
Há séculos que se procura, por todos os meios, sarar a enorme chaga que corroe o organismo social. Em todas as partes do mundo os cientistas, que dos seus labores não fazem monopólio, indivíduos cheios de abnegação e puro amor pelos mártires da Vida, trabalham, esforçam-se denodamente por preparar à Humanidade, que sofre e chora, uma situação mais desafogada, mais livre, da qual possa caminhar de cabeça erguida, sem receios, altivamente, pela luminosa estrada do Porvir.
Desses trabalhos, desses esforços, para mim sacrossantos e dignos de admiração numa sociedade intelectual tão imbecil, decadente e nauseativa como a nossa, desses benditos trabalhos, desses gigantescos esforços destaca-se, pelo seu alcance social, pela grandeza e lógica (que encerra, o neo-maltusianismo. O neo-maltusianismo, doutrina precedente duma demonstração social e económica formulada por Malthus, a respeito do aumento progressivo da população, e que tem por fim criar um limitado número de indivíduos sãos de corpo, fortes, inteligentes e bons.

Nós, os neo-maltusianistas, sem deixarmos de considerar necessária, inevitável e urgente, mesmo, uma completa transformação na estrutura social de hoje. afirmámos, perante a exploração cada vês mais cínica dos pobres por uma minoria de privilegiados, perante a ignóbil escravidão que sobre o individuo, especializando a mulher, pesa, que a fonte, a causa principal dos males que sofremos está, indubitavelmente, na procriação sem limite e sem método.
Com efeito, lançar ao mundo criaturas sem lhes assegurarem primeiramente os meios de subsistência, durante o período do desenvolvimento orgânico, sem lhes poderem ministrar a cultura intelectual indispensável ao Homem e à mulher, é preparar novos explorados, novos escravos, novos párias que perpetuarão a Iniquidade contra a qual os discursos eloquentes, os artigos em estilo sublime ou os gestos audaciosos de revolta são meros paliativos.
Procriar é outrance, julgar que as relações sexuais entre o homem e a mulher devem servir para a reprodução da espécie, ainda que a fome espreite os novos habitantes da Londres de misérias, e não para completar o ser humano, traz-nos as horríficas cenas que diariamente se nos deparam:
Bandos de crianças pálidas, famintas, cobertas de andrájos e descalças que enxameiam as ruas dos grandes centros em busca de pão com que mitiguem a fome, porque seus pais, se não foram abandonadas, não auferem o suficiente para o seu alimento; pervertendo-se, corrompendo-se, degenerando-se porque seus pais, nascidos e breados nas mesmas circunstancias, não podem, se assim o desejam, o que raras vezes acontece, educa-las convenientemente, torna-las entes úteis aos seus companheiros.
Essas crianças, mulheres, que vos vedes para aí aos pontapés, aos vaivéns da sorte, sem uma Humanidade generosa que as proteja, são os filhos não desejados, nascidos da bestialidade e da inconsciência, que vieram trazer ao lar o aborrecimento, a lágrima, a discórdia e muitas vezes o luto. 1912 Texto de J. Teixeira Junior
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